sexta-feira, abril 24, 2009

Dia desses tive que comprar meias pela primeira vez.

Recentemente havia passado pela experiência de comprar cuecas... as limpas haviam acabado, as demais estavam de molho - inclusive aquelas bem surradas e furadas, que eu só usava nos dias que eu tinha certeza que não iria comer ninguém.
Pouco adepto do estilo de vida do meu pai, que acha que passarinho precisa de liberdade, vesti uma sunga que achei no fundo da gaveta e fui comprar as tais no supermercado mais próximo.

A empreita foi quase um sucesso... e digo quase porque, como todas as outras, apertavam muito na frente.

De cuecas para meias, achei que não haveriam grandes dificuldades.
E já me sentindo experiente, fui para o shopping mais próximo, imaginando ser difícil achá-las no supermercado.

Só passando pela porta principal me toquei do fato de que eu não fazia a menor idéia de que tipo de loja vende meias.

Comecei a andar, reparando nas vitrines.
Naquelas que tinham manequins, olhava para os pés para ver se estavam de meia...
Já havia reparado em manequins sem cabeça, mas nunca havia me ocorrido que também existiam manequins sem os pés.

Impaciente, depois de uns 3 minutos de busca, comecei a entrar nas lojas que, supostamente, talvez, quem sabe, vendessem o que eu queria.
Exceção feita às cafeterias, óticas, lan-houses e quiosques de massagem, entrei em cada uma delas fazendo a mesma pergunta: "vende meia aí?"

A frustração era maior nas lojas que eu tinha quase certeza que as encontraria, como nas que indicavam artigos para cama, mesa e banho; afinal, durmo de meias, então para mim se enquadravam na categoria "cama".

Já em outras, como no quiosque da Terra Média, me olhavam como se eu tivesse estuprado o corpo do último anão sepultado em Khazaddûm.
Vale a observação: para trabalhar nesses quiosques, não precisa apresentar CV. Basta ser cabeludo, morar com a vó, ter cavanhaque e pés peludos (seja homem ou mulher).

Já desanimando, pensando em voltar para casa e usar meu último par de meias mais ou menos limpo do avesso por mais um dia, um feixe de luz divino me atinge quando vejo o letreiro de uma loja no final do último corredor do último andar do shopping: LUPO.

Feliz por não ter perdido a viagem, entrei e fui logo pedindo uns 6 pares de meias brancas esportivas, fazendo um cálculo mental simples, que agora percebo ter sido baseado em coisa alguma: "acho que com R$ 10 eu compro uns 3 pares. Peço 6, e ganho desconto por quantidade".

Humildemente reconheço que não sei mensurar o valor de algumas coisas, mas até aquele dia ainda agradecia por ter nascido homem, nunca tendo que comprar roupa cujo preço é inversamente proporcional à quantidade de pano existente na peça.

Qualquer par vagabundo já saia por R$ 10 ou R$ 15. Alguns chegavam a R$ 30.
Um par de meias pretas, com sistema de camadas que absorviam o suor e eliminavam o odor do pé (a menos que você seja um funcionário do quiosque da Terra Média) saia por R$ 80.
Por esse preço, elas deviam andar no meu lugar ou, no mínimo, servirem também para passar café.

Contei o dinheiro na carteira... daria para comprar 2 pares e meio, se tivessem visão de negócio e fizessem as vendas por peça, aproveitando o filão de clientes que perdem apenas o pé direito ou esquerdo e não ligam para coisas bobas com combinação de cores nas roupas.

Levei 1 par das de R$ 15 e 1 das de R$ 10.

Nesse dia, não passei no McDonald's antes de voltar para casa.
Assim eles aprendem a não tirar o suco de maracujá do cardápio.

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